Por Elisabeth CREPALDI
Como a ABA entende a gagueira
Na Análise do Comportamento Aplicada (ABA), todo comportamento possui dimensões mensuráveis (Skinner, 1938; Cooper et al., 2020).
A partir disso, a gagueira pode ser observada e registrada segundo diferentes critérios:
- Frequência ou contagem: número de repetições, prolongamentos ou bloqueios em uma amostra de fala;
- Taxa de resposta: frequência ajustada ao tempo (por exemplo, episódios por minuto ou por número de palavras emitidas);
- Duração: tempo total em que ocorre o bloqueio ou prolongamento de uma palavra;
- Latência: intervalo entre o estímulo antecedente (SD) e o início da fala, útil para mensurar atrasos na resposta verbal;
- Magnitude: intensidade ou esforço visível durante a emissão (como tensão muscular ou esforço vocal).
Essas medidas são fundamentais para estabelecer uma linha de base objetiva, acompanhar a evolução do quadro e avaliar a eficácia das intervenções.
Mensurar é fundamental: a medição rigorosa do comportamento é essencial para identificar mudanças reais e planejar procedimentos eficazes (Cooper, Heron e Heward, 2020).
Análise funcional: entendendo a função da gagueira
Além das dimensões observáveis, a ABA busca compreender a função da gagueira, ou seja, o que mantém o comportamento.
Embora fatores neurológicos e desenvolvimentais tenham papel reconhecido (Van Riper, 1982), os padrões de disfluência também são fortemente influenciados por contingências ambientais.
A gagueira pode ser mantida por:
- Reforçamento automático: alívio momentâneo da tensão vocal ao repetir ou prolongar sons;
- Reforçamento social positivo: atenção ou empatia do interlocutor diante da dificuldade de fala;
- Reforçamento negativo: fuga ou evitação de situações comunicativas que geram ansiedade
ABA e fonoaudiologia: uma atuação complementar
A Análise do Comportamento não substitui a compreensão fonoaudiológica — ela a complementa.
Essa integração permite avaliar funcionalmente o comportamento e aplicar procedimentos baseados em evidências.
Entre as estratégias comportamentais que podem ser utilizadas estão:
Reforço diferencial de respostas fluentes;
Treino gradual de fala em diferentes contextos;
Manipulação de antecedentes, como a redução da pressão de tempo durante a comunicação.
Essas abordagens devem ser sempre conduzidas em colaboração com a equipe fonoaudiológica, garantindo um olhar interdisciplinar sobre o paciente.
A gagueira, enquanto comportamento verbal com propriedades observáveis, pode ser objeto de estudo sistemático dentro da Análise do Comportamento.
O rigor na mensuração e a análise funcional das contingências que mantêm a disfluência permitem construir intervenções mais precisas e individualizadas.
Assim, a prática clínica pode se apoiar tanto na tradição experimental de Skinner (1938) quanto nas aplicações contemporâneas descritas por Cooper, Heron e Heward (2020), resultando em um tratamento mais eficaz e cientificamente fundamentado.

Referências
Cooper, J. O., Heron, T. E., & Heward, W. L. (2020). Applied Behavior Analysis (3ª ed.). Pearson.
Skinner, B. F. (1938). The Behavior of Organisms: An Experimental Analysis. New York: Appleton-Century.
Van Riper, C. (1982). The Nature of Stuttering. 2nd Edition. Prentice-Hall.