TEA – TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA

Os transtornos do espectro autista são transtornos do desenvolvimento por causas neurobiológicas com etiologia multifatorial e graus variados de severidade. Eles são definidos de acordo com critérios clínicos e de um ponto de vista comportamental. Os critérios diagnósticos exigem que os sintomas se tornem aparentes antes da idade de três anos.

Os transtornos do espectro autista afetam o processamento de informações no cérebro, alterando as conexões e a organização das células nervosas. Juntos, resultados de estudos clínicos, de neuroimagem, neuropatológicos e neuroquímicos mostram que os distúrbios do espectro autista são distúrbios da organização neuronal-cortical que causam déficits no processamento de informações no sistema nervoso, variando da organização sináptica e dendrítica à conectividade e estrutura cerebral. Essas mudanças provavelmente alteram a trajetória de desenvolvimento da comunicação social e parecem ser afetadas por fatores genéticos e ambientais.

No momento, não há um teste definitivo para identificar indivíduos com Transtornos do Espectro Autista. Idealmente, a avaliação e o diagnóstico envolvem uma equipe multidisciplinar que inclui pediatra ou psiquiatra, psicólogo e fonoaudiólogo.

O psicólogo frequentemente administra avaliações para coletar informações sobre o desenvolvimento e comportamento, o fonoaudiólogo avalia fala, linguagem e comportamentos comunicativos. Uma avaliação médica é realizada para descartar outras causas possíveis para os sintomas, uma vez que muitas das características associadas com o Transtorno do Espectro Autista também estão presentes em outros transtornos. A história médica e de desenvolvimento é obtida por meio de entrevistas com os pais. Esta informação é combinada com as outras avaliações para obter uma visão geral e descartar outros fatores contribuintes.

Transtornos antes classificados separadamente, como a Síndrome de Asperger e o Transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação hoje fazem parte de uma única classificação diagnóstica, o Transtorno do Espectro Autista (TEA), tanto no DSM-V – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição (código 299.0) quanto na CID-11 – Classificação Internacional de Doenças 11ª edição (código 6A02).

No DSM-5, o TEA (Código 299.0) inclui: Autismo Infantil; Síndrome de Asperger; Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra especificação. O diagnóstico exige que os três critérios a seguir estejam presentes:

1- Déficit na comunicação e interações:

– comunicação

– reciprocidade social

– relacionamentos;

2- Padrões restritivos e repetitivos de comportamento;

3- Sintomas presentes desde infância precoce.

Deve-se especificar a gravidade atual.

De acordo com a gravidade das dificuldades apresentadas, o TEA pode ser classificado em Nível 1, Nível 2 e Nível 3.

No TEA Nível 1, duas características se destacam: as pessoas necessitam de pouca ajuda para lidar com suas dificuldades e desenvolvem a fala e se comunicam por meio dela. Porém, apresentam limitações na área da linguagem, como dificuldade para compreender figuras de linguagem, sarcasmo, expressões de duplo sentido, malícia no tom de voz ou expressões faciais e corporais. Tendem a se expressar de forma literal e a falar o que pensam sem avaliar a adequação do momento. Podem apresentar rigidez de pensamento e não conseguirem mudar de opinião. Apresentam dificuldade em iniciar interações, mas participam de atividades sociais. Suas estereotipias e peculiaridades podem ser vistas pelos outros como sendo seu “jeito de ser”. Desenvolvem autonomia e independência. Na vida adulta, trabalham e podem constituir família.

No TEA Nível 2, as crianças apresentam dificuldades de fala e linguagem, de comportamento e de convívio social mais evidentes. Apresentam atraso na fala e podem fazer uso de sentenças incompletas ou fala descontextualizada. A comunicação não verbal também é limitada. Necessitam de ajuda para interagir com os outros e podem assumir o papel de ouvintes. Resistem a mudanças, como contato com novos grupos sociais, novos ambientes e precisam de muita preparação para isso. Suas dificuldades podem levar a crises de estresse e frustração, com ocorrência de episódios de auto e heteroagressão.

Apresentam interesses mais restritos, grande dificuldade de aprendizagem e para realizar as atividades da vida diária. Demandam muita ajuda, tanto em casa como na escola. Alcançam autonomia e independência limitadas.

No TEA Nível 3, as pessoas apresentam grande comprometimento de fala e linguagem, de habilidades sociais e de comportamento. A fala pode ser mínima ou ausente, o que exige sempre um mediador para comunicação. Mas, algumas pessoas com TEA Nível 3 podem aprender a se comunicar usando língua de sinais, quadros de soletração ou outras ferramentas, e podem se tornar bastante articuladas. A iniciativa para interação social é muito limitada e podem não evidenciar atenção às manifestações dos outros. Pessoas com este nível de Transtorno podem parecer completamente alheias à presença de outras pessoas. Apresentam tendência ao isolamento e forte fixação em interesses restritos.

Comportamentos repetitivos graves, como balançar-se violentamente, bater a cabeça, bater portas e gemer, podem ser extremos e incontroláveis e exigir resposta efetiva. Comportamentos inadequados graves podem ser resultantes de frustração, sobrecarga sensorial ou dor. Pessoas com TEA Nível 3 tendem a ser extremamente sensíveis aos estímulos (luz, som, toque, sabor, odor) a ponto de ambientes lotados, brilhantes ou barulhentos se tornarem insuportáveis para elas.

Muitas delas apresentam déficit intelectual significativo. Mesmo com ajuda, apresentam grande dificuldade para fazer algo pelo qual não têm interesse. Também podem apresentar comprometimentos físicos, com sintomas de insônia, epilepsia e distúrbios gastrointestinais.

Pessoas com TEA Nível 3 podem não chegar a obter autonomia e independência que lhes permitam viver sem ajuda.

O acompanhamento com equipe multidisciplinar inclui fonoaudiologia, psicologia, psiquiatria, terapia ocupacional, nutricionista e outros profissionais de acordo com as necessidades individuais. Consultas médicas periódicas ajudam a prevenir e tratar doenças e sintomas que causam desconforto ou dor, evitando agravamento de comportamentos disruptivos em função destes.

De acordo com a CID-11, o Transtorno do Espectro Autista recebe o Código 6A02, podendo ser classificado de acordo com a presença e a gravidade de prejuízo intelectual e da linguagem funcional:

6A02.0 Sem déficit intelectual e com prejuízo leve ou sem prejuízo de linguagem funcional.

6A02.1 Com déficit intelectual e com prejuízo leve ou sem prejuízo de linguagem funcional

6A02.2 Sem déficit intelectual e com prejuízo de linguagem funcional.

6A02.3 Com déficit intelectual e prejuízo da linguagem funcional.

6A02.5 Com déficit intelectual e ausência de linguagem funcional.

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